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Buda - Sua Vida, Seus Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade

Osho e seus seguidores causaram uma série de controvérsias e originaram a série “Wild wild country”, da Netflix. Aqueles que viram a série, como eu vi, provavelmente torcerão o nariz devido aos imbróglios envolvendo o nome do autor e suas práticas. Não quero entrar no mérito de sua história. Osho para mim não foi Deus, era um ser humano com suas virtudes e defeitos como qualquer um de nós. Quer queiramos ou não, Osho é uma autoridade nas tradições espirituais. Sua capacidade em ensinar as grandes tradições para o público contemporâneo reside (a meu ver) na sua grande virtude. Seu livro “Buda: Sua Vida, Seus Ensinamentos e o Impacto de sua Presença na Humanidade” nos leva a uma emocionante jornada pela vida e pelo mundo do príncipe Siddahrtha, que se tornou Gautama Buda. Osho é um grande contador de histórias e ele consegue, através dos ensinamentos desse grande mestre, nos mostrar sua trajetória de vida e os caminhos para a iluminação.

Osho tem uma inteligência não convencional e um profundo conhecimento. Ele nos guia passo a passo pelos segredos e sutilezas da única “religião mundial sem Deus”. Confesso que, como leitor que sou, foi uma viagem maravilhosa e me levou a querer resenhar esse livro. Osho é um professor sensacional e ele nos leva a penetrar na qualidade interior da espiritualidade de Buda, levando o leitor a uma nova compreensão de sua mensagem atemporal.

A raiz “budh” tem muitas dimensões. Existem pelo menos cinco significados para a palavra “budh”.

O primeiro significado da palavra ”budh” é despertar, despertar a si mesmo e despertar os outros. A palavra é oposta a estar dormindo. Normalmente, as pessoas estão dormindo. Mesmo quando você acha que você está desperto, você não está. Ao caminhar na rua, em sua mente você está inteiramente acordado. Mas, na perspectiva de um Buda, você está dormindo profundamente, pois mil e um sonhos e pensamentos estão brotando dentro de você. As pessoas caminham com os olhos abertos, obviamente, mas, segundo Buda, as pessoas podem caminhar com os olhos abertos no sono e no sonho. É o que chamamos de sonâmbulo, ou seja, a pessoa que dorme de olhos abertos.

Seu olho interior, nas palavras de Buda, não está aberto; você ainda não sabe quem você é, ainda não investigou a sua própria realidade. Você não está desperto. A pessoa que realmente deseja ser um buda precisa viver a cada momento com muita intensidade. Buda significa simplesmente “aquele que está desperto”. Gautama Buda é a pessoa desperta mais famosa do mundo. Houve muitos Budas antes e depois dele e, como toda pessoa pode se tornar um Buda, novos budas surgirão no futuro.

Para entendermos melhor o que Buda está querendo dizer, vamos contar qual foi a trajetória de Buda até chegar à iluminação. Antes de sair de seu palácio para sua grande peregrinação desconhecida em busca de iluminação, ele sabia que estava arriscando tudo na sua vida. Deixou uma vida confortável junto com sua mulher e filho rumo ao desconhecido, arriscando sua vida e cheio de dúvidas. A razão para essa jornada está  nesta constatação:

“Se a morte existe, então é perigoso desperdiçar o tempo no palácio. Antes que a morte venha, preciso encontrar algo que esteja além da morte.”

Por seis anos, Buda fez de tudo o que alguém poderia fazer; passou por tudo, passou por todos os tipos de professores, mestres eruditos, sábios, videntes, santos. Mas depois de seis anos de uma tremendo esforço de austeridades e jejuns e posturas de yoga, nada aconteceu.

Ele tentou encontrar a verdade, mas nada aconteceu, exceto a frustração e o fracasso. Até que certa vez ele entrou em um rio, estava jejuando por muito tempo e estava fraco, e a correnteza do rio estava forte, mas ele estava muito fraco pelo jejum − todos os professores e todas as escrituras insistem constantemente que não se pode atingir a iluminação a menos que haja a purificação do jejum. O resultado foi que ele se enfraqueceu e não conseguiu sair de um pequeno rio chamado Niranjana.

Após quase ter morrido afogado, chegou à conclusão de que não havia se purificado, simplesmente se enfraqueceu. O jejum não o deixou espiritualmente melhor, mas apenas doente. Até que certa vez uma mulher estava fazendo promessas para uma árvore sob a qual Gautama Buda estava. Sua promessa era a de que, se ela colocasse oferendas debaixo de uma árvore sagrada, seu filho viveria. Quando ela viu Gautama sentado debaixo da árvore, pensou que se tratasse de uma deidade da árvore. E ela ofereceu os doces como se ele fosse um Deus.

A mulher, ao observá-lo, viu que ele era a própria deidade. A mulher lhe ofereceu os doces, Buda aceitou, comeu sem nenhuma culpa, e dormiu um sono profundo. E, pela primeira vez, Buda estava livre das garras de toda a tradição.

Já com 35 anos de idade, resolveu então abandonar os ascetas e passou a trilhar seu próprio caminho para encontrar a Verdade. Fraco e cansado em sua árdua busca, Gautama sentou-se sob a sombra de uma figueira para meditar e jurou que não se levantaria enquanto não encontrasse a Verdade, mesmo que isso lhe custasse a vida. Depois de dias e noites em meditação, ele alcançou a iluminação espiritual. Desde então, ele passou a ser chamado de Buda, termo derivado do sânscrito, que significa “desperto, iluminado, o que sabe”.

A pessoa que realmente deseja estar desperta, deseja ser um buda, precisa viver cada momento com muita intensidade como apenas raramente ela vive. Inteligência é a capacidade de estar no presente. Quanto mais você estiver no passado ou no futuro, menos inteligente você é.

Buda torna a iluminação pela primeira vez altruísta; ele faz disso uma responsabilidade social. É uma grande mudança. Mas a compaixão deve ser aprendida antes que a iluminação aconteça. Se não é aprendido antes, depois da iluminação não há nada a aprender. Quando alguém se torna tão extasiado em si mesmo, até a compaixão parece impedir sua própria alegria − um tipo de perturbação em seu êxtase... É por isso que tem havido centenas de pessoas iluminadas, mas muito poucos mestres.

Segundo significado da palavra “budh” é tornar-se consciente familiarizado: notar e prestar a atenção. Assim, o buda é aquele que reconheceu o falso como falso e abre os olhos para o verdadeiro, reconhecendo como verdadeiro. A verdade, segundo Buda, não tem nada a ver com sua crença. Para a verdade, não faz diferença se você acredita ou não em Deus. Buda não acredita em Deus, não acredita em alma, não acredita em paraíso. Ele é uma imensa descrença e, mesmo assim, é uma religião.

Para Buda, Deus nada mais é do que uma busca por segurança, por proteção e abrigo. Você acredita em Deus não porque Deus exista, mas porque se sente impotente sem essa crença. Mesmo se Deus não existisse, (segundo Buda) você inventaria um. A tentação vem da sua fraqueza, Trata-se (nas palavras de Buda) de uma projeção.

O cristianismo, o judaísmo, o islamismo e o hinduísmo são religiões que se preocupam com as necessidades e não estão muito preocupadas com a verdade; elas estão mais preocupadas com você, em como consolá-lo. Buda é um descrente, e sua religião é da descrença. Buda diz: “Não sou um metafísico”. Ele não tem uma metafísica, não tem uma explicação definitiva. Buda diz para abandonar a esperança, para abandonar o desejo. Ao abandonar a esperança, ao abandonar o desejo, você estará aqui e agora. Sem desejo, você estará satisfeito; é o desejo que nos distrai, que nos engana e nos afasta do aqui e o agora.

A pessoa inteligente não acredita em coisa nenhuma, e não desacredita em coisa nenhuma. Ela está simplesmente aberta para reconhecer, mas de acordo com sua crença, pois ela não tem crença. Ela investiga a vida, e tudo o que tiver presente ela estará pronta para perceber.

É uma revolução no mundo das religiões. Buda criou uma religião sem Deus. Pela primeira vez, Deus não está mais no centro de uma religião. O homem se torna o centro da religião, e o ser mais íntimo do homem se torna compaixão. Permaneça por alguns momentos dentro de si, lentamente, estabelecendo-se lentamente em seu centro. No dia em que você está assentado no centro, a explosão acontece.

O terceiro significado da palavra ”budh”, inteligência, é saber, entender. Buda conhece aquilo que é, entende aquilo que é, e nesse próprio entendimento ele se livra da escravidão. “Budh” significa saber no sentido de entender, e não no sentido de acumular conhecimento intelectual. Buda não é intelectual. A pessoa inteligente não se importa muito com informação e conhecimento, ela se importa muito mais com a capacidade de saber. Seu interesse real e autêntico está no saber, e não no conhecimento intelectual. O saber lhe dá entendimento; o conhecimento intelectual lhe dá apenas uma sensação de entendimento, sem lhe dar o conhecimento verdadeiro. O conhecimento intelectual é ilusório.

Você pode ficar acumulando conhecimento tanto quanto quiser, pode se tornar extremamente culto. Pode escrever livros, ter títulos de mestrado e doutorado e pós-doutorado, mas ainda assim continuará sendo a mesma pessoa ignorante que sempre foi. Sua burrice fica maior, é uma burrice com títulos.

A pessoa que investiga precisa estar aberta a todas as possibilidades. Ela não pode se dar ao luxo de ter uma mente fechada. A investigação não anda de mãos dadas com uma mente fechada.

O quarto significado da palavra de ”budh” é tornar-se a luz, tornar-se iluminando. A inteligência é a centelha. Normalmente somos escuridão, um continente de escuridão, um continente sombrio inexplorado. O ser humano é um ser um pouco estranho: ele insiste em explorar o Himalaia, o Pacífico, em chegar à lua ou Marte. Apenas uma coisa que ele nunca tenta: explorar o seu ser interior. O ser humano pousou na lua, mas ainda não pousou em seu verdadeiro ser.

Para Buda, a pessoa precisa ir para dentro de si. Antes de ir a qualquer lugar, ele precisa penetrar em seu próprio ser. Para ir a qualquer outro lugar, você precisa ir para o interior de si mesmo. Uma pessoa iluminada não têm recantos escuros em seu ser, tudo é como a manhã: o sol está no horizonte, e a escuridão, a melancolia e as sombras da noite desaparecem.

O quinto significado da palavra “budh” é aprofundar. Há uma profundidade em você, uma profundidade sem fim que precisa ser explorada. Quando o seu homem interior penetra em sua mulher interior, há um encontro: você se torna um só. Então desaparecem todos os desejos do exterior, e nessa ausência de desejo está o Nirvana.

A iluminação é uma experiência que acontece em completo silêncio. Quando Gautama Buda se iluminou, permaneceu em silêncio por sete dias. O silêncio é a única linguagem correta para iluminação. No entanto, no momento em que você tenta trazê-la para a linguagem, ela fica distorcida, ou seja, no momento que você traduz o silêncio em linguagem, o sentido do silêncio muda, passa a significar outra coisa.

Outro ponto que chama a atenção, entre muitos ensinamentos que o livro nos mostra: Gautama Buda foi uma das primeiras pessoas a usar o termo: “o caminho do meio”. E o que vem a ser esse ensinamento? Gautama Buda chamou o seu caminho de “o caminho do meio”. O primeiro significado é que, se você puder evitar os extremos, como, por exemplo, da direita e da esquerda, se puder ficar exatamente no meio dos dois extremos, você não estará no meio propriamente dito, mas terá transcendido toda a trindade que envolve os extremos e o meio.

Gautama Buda nos ensina que todo extremo precisa excluir o outro extremo, precisa estar em oposição à outra polaridade. O negativo é contra o positivo, o menos é contra o mais, a morte é contra a vida. No entanto, se a pessoa consegue parar exatamente no meio, transcende de imediato todos os extremos e ao mesmo tempo o próprio meio. A partir de um ponto de vista mais elevado de um ser transformado, você pode perceber que absolutamente não existe oposição. Os extremos não são opostos, não são contraditórios, mas apenas complementares.

Na existência, não há contradição em nada: todos os opostos contribuem com o todo. A existência é uma unidade orgânica, ela não exclui nada, ela é toda inclusiva.

Outro ensinamento diz respeito à “correta atenção”. O ser humano é uma multidão de muitas vozes, relevantes e irrelevantes, consistentes e inconsistentes – cada vez puxando a pessoa à sua maneira. Normalmente o ser humano é uma confusão só, vivemos um tipo de loucura. Você tenta parecer saudável, mas no fundo camadas e camadas de insanidade estão fervilhando dentro de você. Elas podem eclodir.

Buda diz que, sempre que houver uma necessidade de resposta sobre algum ponto, a primeira coisa que temos que fazer é ficarmos atentos, alertas, observando a situação como se estivéssemos fora dela, distante como um observador sobre as colinas. Este é o primeiro requisito: ficar centrado para que o ato, a resposta surja e tudo que você quiser será virtuoso.

Outro ensinamento: Buda diz que você já é o que quer se tornar, que o objetivo está dentro de você, é a sua própria natureza. Buda tem uma abordagem diferente quando diz que nada falta a você. Na verdade você está carregando coisa de mais. Você precisa abandonar algo. Para tomar a sua vida em suas próprias mãos.

Os mais importantes ensinamentos budistas são as Quatro Nobres Verdades. A primeira nobre verdade é a existência do sofrimento; a segunda, é que a causa dele são os três venenos: o desejo, a ignorância e a aversão; e terceira nobre verdade é que o sofrimento acaba quando eliminamos os três venenos.

Osho nos dá uma bela introdução sobre o budismo. Seu livro: “Buda: Sua Vida, Seus Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade” é um excelente começo para aqueles que querem entender melhor essa religião sem Deus, e que não está baseada em nenhuma lógica, mas apenas na experiência. Que se baseia em uma imensa paixão em viver o presente, para ficar atento, para ficar alerta, para viver sua vida repleta de luz.   

Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 12 fevereiro 2020 (Atualizado: 12 de fevereiro de 2020) | Tags:


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Buda - Sua Vida, Seus Ensinamentos e o Impacto de Sua Presença na Humanidade
autor: Osho
editora: Cultrix
tradutor: Leonardo Ferreira

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