Zoológico de Vidro
Antes de entrar na história propriamente dita, devo dizer que “O Zoológico de Vidro”, de Tennessee Williams, é uma peça simplesmente magistral. A versão cinematográfica que vi foi excelente, a versão que vi foi a de 1974 com um elenco de peso: Katharine Hepburn, Sam Waterson, Michael Moriaty, Joanna Milles, que dão um show. O filme segue fielmente o texto da peça. E o texto (desculpe-me repetir) é primoroso.
Essa peça estreou na Broadway no dia 31 de março de 1945 e dois anos depois, o grande sucesso do autor (já resenhado aqui), “Um Bonde Chamado Desejo”, lhe rendeu o prêmio Pullitzer. A maioria das peças de Tennessee Williams ganhou as telas de cinema.
“O Zoológico de Vidro” tem muito de autobiográfico. No início de sua carreira, frequentemente o autor buscava inspiração em sua própria família para escrever. “O Zoológico de Vidro” (The Glass Menagerie) foi o seu primeiro sucesso. É o mais autobiográfico, pois os personagens são baseados em sua mãe, irmã e nele mesmo.
Sua mãe, Edwina Dakin Williams, teve um papel importante em sua criação. Ela teve papel crucial na criação dos filhos. Criada no Sul dos E.U.A., casou-se com Cornelius Coffin Williams e se mudaram para St. Louis. Os valores sulistas foram mantidos e ela se apega ao seu passado e às raízes sulistas. Seu pai estabeleceu uma luta com o álcool, e foi um pai ausente. Na peça, o pai de Tom (personagem da peça), chega ao ponto de abandonar a família.
Tennessee Williams teve um relacionamento muito próximo com sua irmã Rose, que na peça é Laura. Ao contrário da personagem da peça, era muito popular na escola. Quando cresceram, no entanto, Rose começou a exibir um comportamento problemático. Assim como Laura (personagem), Rose abandou a escola muito cedo. Foi quando a mãe a enviou para um internato. Na escola, Rose começava a dar sinais de problemas mentais. Foi diagnosticada com esquizofrenia. Casou-se, mas não foi correspondida. Laura (personagem) sofreu do mesmo infortúnio.
Foi internada no Sanatório St. Vincent em St. Louis. Em 1943, Rose recebeu uma das primeiras lobotomias pré-frontais realizadas na época. Após o procedimento, Tennessee Williams começou a escrever os primeiros rascunhos da peça que veio a se chamar “The Glass Menagerie”, “Zoológico de Vidro” na tradução do português. Embora Laura (personagem) não sofresse de doença mental semelhante à Rose (irmã de Williams), Tennessee Williams incorporou os problemas psiquiátricos da irmã e o senso de isolamento do mundo, a timidez paralisante de Laura e a dificuldade de andar.
Tom (personagem da peça) é considerado o próprio Tennessee Williams. E aí tem uma curiosidade: o nome de batismo de Tennesse Williams era Tom Lanier Williams. Tom (personagem) é um escritor frustrado que trabalha no almoxarifado de uma fábrica de sapatos em St. Louis para sustentar a família. Assim como Williams fazia quando tinha vinte e poucos anos. Tom escreve poesia em qualquer lugar, inclusive em caixa de sapatos, o que leva todos a chamarem-no de “Shakespeare”.
Tom (personagem) anseia sair da vida de ilusões que o cinema lhe proporcionava, seu único programa, e anseia fazer viagens e aventuras. O mesmo anseio que Tennessee Williams tinha quando ia buscar inspiração para a sua escrita ao longo de seus vinte e poucos anos.
Vamos à história?
“O Zoológico de Vidro” é uma peça sobre memória, e todos os eventos são extraídos do narrador da peça, que se chama Tom Wingfield, que também é personagem da peça.
“Tom: Pois é, eu tenho truques nos bolsos e cartas na manga. Mas sou o oposto dos mágicos do teatro. Eles dão a vocês uma ilusão que parece verdade. Eu vou lhes dar a verdade sob o disfarce agradável da ilusão. Para começar, vou fazer o tempo voltar. Vou fazer para voltar nos anos trinta, aquele estranho período em que a imensa classe média americana se matriculou numa escola de cegos. Seus olhos falharam, ou eles fizeram com que os seus olhos falhassem, então passaram a ter que pressionar os dedos com força cruel alfabeto Braille de uma economia que se dissolvia.
Na Espanha houve uma revolução. Aqui, só gritaria e confusão. Na Espanha houve Guernica. Aqui, manifestações trabalhistas, às vezes bem violentas, em cidades sempre pacíficas, como Chicago, Cleveland, Saint Louis...
Este é contexto social da peça (a música começa a tocar)
Esta é uma peça de memórias, sendo assim, ela é pouco iluminada, sentimental e não realista. Na memória tudo acontece como música. Isso explica os violinos nas coxias.
Eu sou narrador da peça e também personagem dela. As outras personagens são minha mãe, Amanda, minha irmã Laura, e um rapaz, um pretendente, que entra nas cenas finais. Ele é o personagem mais realista da peça, porque é um emissário da esfera da realidade, da qual, de alguma forma, nós nos afastamos. Mas como sou poeta e tenho um fraco por símbolos, estou usando essa personagem também como símbolo; ela é a aquela coisa que nunca chega – mas que sempre esperamos – e pela qual vivemos.
Há uma quinta personagem na peça, que só aparece naquela fotografia grandiosa na parede. É o nosso pai, que nos deixou há algum tempo. Ele era um homem que de tanto lidar com telefones se apaixonou por longas distâncias, desistiu do trabalho na companhia telefônica e caiu no mundo...
A última notícia que tivemos dele foi num cartão postal enviado de Mazatlan, na costa do México, no Oceano Pacífico. O cartão tinha uma mensagem com duas palavras: “Olá – Adeus”. E nenhum endereço.
Acho que daqui para frente a peça vai falar por si mesma...
(a voz de Amanda se torna audível através da tela)” (pág. 31; pág. 32; pág. 33)
Tom entra no apartamento, e a ação da peça começa. Os Wingfields estão sentados na mesa do jantar. Amanda implica com Tom sobre o vício do fumo. Ela narra suas memórias de juventude.
“Amanda: Numa tarde de domingo, em Blue Mountain, a mãe de vocês recebeu – dezessete! – pretendentes! Sabe as vezes faltavam cadeiras para acomodar todos eles. Tínhamos que mandar o negro buscar as cadeiras dobráveis lá na paróquia.
Tom: E como você entretinha todos esses pretendentes?
Amanda: Eu conhecia a arte de uma boa conversação!
Tom: Ah, e devia conversar muito mesmo.
Amanda: Naquele tempo as moças sabiam conversar, isso eu garanto. (pág. 35)
As histórias de Amanda são repetitivas, mas Tom e Laura a deixam falar. Tom faz as perguntas, e ela responde como se estivesse lendo suas memórias. Amanda fica desapontada quando sua filha Laura diz que nunca receberá ninguém:
Laura: Acho que não vamos receber ninguém, mãe.
Amanda: O quê? Ninguém, nenhum? Você está brincando! Nenhum pretendente? Não pode ser verdade! Só pode ter havido uma enchente, ou um tornado!
Laura: Não, mãe, não foi nenhuma enchente nem tornado. É que eu não sou tão popular quanto você era em Blue Mountain... (pág. 38)
Amanda matriculou-se em um curso de datilografia, do qual Laura havia desistido depois das primeiras aulas por causa de sua timidez e uma ansiedade debilitante. Laura passa os dias vagando sozinha pelo parque e pelo zoológico. Uma outra coisa a que Laura se dedica é cuidar de seu zoológico de vidro, uma coleção de estatuetas de vidro.
“Amanda: Quer dizer que das sete e meia até depois das cinco você ficava perambulando pelo parque para eu pensar que você continuava frequentando o curso de datilografia na Escola Técnica Rubicam?
Laura: Não era tão ruim quanto parece. Eu entrava em alguns lugares para me aquecer.
Amanda: Que lugares?
Laura: O museu de arte e os viveiros de passarinhos no zoológico, por exemplo. Eu visitava os pinguins todo dia! Algumas vezes eu não almoçava e ia ao cinema. Nesses últimos tempos, eu passava quase todas as tardes na Caixa de Joias, aquela grande estufa de vidro onde cultivam flores tropicais...”
“...Amanda: (manuseando sem esperança o grande livro): E o que nós vamos fazer pelo resto de nossas vidas? Ficar em casa vendo a vida passar pela janela? Brincar com o zoológico de vidro, minha querida? ... (pág. 44; pág. 45)
Amanda se frustra com aquilo que vê, tenta mudar o rumo da prosa, e decide que encontrar um marido para filha é uma prioridade. Laura fala de um garoto que ela paquerava quando cursava o ensino médio. O nome dele era Jim. Amanda começa a arrecadar dinheiro extra para a família vendendo assinaturas para uma revista de glamour feminina.
Tom sente-se sufocado tanto no trabalho quanto na vida familiar, escreve poesia enquanto está no armazém. Quando está em casa, ele escapa do apartamento para ir ao cinema todos os dias, dedicando sua vida à literatura e bebidas. Tom e Amanda discutem amargamente e sua alegação é a total falta de privacidade. Amanda, por outro lado, cobra dele maior dedicação à família.
“Amanda: Eu devolvi aquele romance terrível para a biblioteca. É isso mesmo! Aquele livro horroroso daquele tal de Lawrence (Tom ri enlouquecido.) Eu não posso controlar o que uma mente doente escreve, nem quem divulga esse tipo de coisa – (Tom ri como uma raiva ainda). MAIS EU NÃO VOU PERMITIR QUE UMA PORCARIA COMO DESSAS ENTRE NA MINHA CASA! Não, não e não!
Tom: Sua casa, sua casa! Quem é que paga o aluguel? Quem é que leva uma vida de escravo para...
Amanda: Não se ATREVA a...” (pág. 51)
Amanda e Tom mantêm uma discussão acalorada. Afetado pelos sentimentos de raiva que carrega, ele faz um movimento violento ao pegar o sobretudo, dirigindo-se à porta e deixando-a ostensivamente aberta. As mulheres o observam, aterrorizadas. Seu braço fica preso na manga do casaco. Ele em um movimento brusco, acaba rasgando o casaco no ombro e lança-o pela saída. O casaco atinge a estante onde encontra-se a coleção de objetos de vidro de Laura.
“Laura: Meu zoológico de vidro!” (ela cobre o rosto e vira-se) (pág. 55)
Amanda continua enlouquecida discutindo com o filho. Tom sai e reaparece e à medida que ele vai subindo as escadas de sua casa. as luzes vão se acendendo. Ele está voltando de madrugada. Ele abre a fechadura e sua irmã Laura está esperando. Ele tira do bolso um canhoto de bilhete de cinema e uma garrafa vazia. E narra um truque de mágica envolvendo um caixão pregado. Tom vê esse truque como um símbolo de sua vida.
“Tom: Houve um grande show! A principal atração do show foi Malvólio, o Mágico. Ele fez truques maravilhosos, muitos como derramar água para a frente e para trás entre dois jarros. Primeiro a água virava vinho, depois virava cerveja e depois whisky . Eu sei que no final era whisky porque ele precisou que alguém da plateia subisse para ajudá-lo, e eu subi – nos dois shows! Era um whisky típico do Kentucky. Um cara muito generoso, distribuiu umas lembranças (ele tira do bolso de trás uma echarpe brilhante com todas as cores do arco íris.) Ele me deu isso. Sua echarpe mágica. Pode ficar com ela, Laura. Se você balançá-la sobre a gaiola de um canário, ela se transforma em um aquário de peixinhos dourados. Depois você balança de novo sobre o aquário e os peixinhos se transformam em canários e saem voando..., mas o truque é maravilhoso foi o do caixão. Nós pregamos a tampa de um caixão com ele dentro, e ele saiu do caixão sem tirar um prego. Esse truque seria muito útil para mim – me permitiria sair dessa prisão! (ele se joga na cama e começa a tirar os sapatos. (pág. 57)
Devido aos pedidos de Laura, Tom e Amanda se reconciliam, mas eventualmente Tom e Amanda têm uma preocupação em comum, e essa preocupação tem um nome: Laura. Amanda pede ao filho, Tom, que ele não faça como o pai dele fez, abandonar a família. Amanda pede que o filho encontre um pretendente para Laura no almoxarifado:
Amanda: Ah, estou vendo muito bem o que vai acontecer, está diante do meu nariz! É assustador! A cada dia que passa você lembra mais o seu pai! Ele sumia por horas sem dar explicações! E depois foi embora! Adeus! E me deixou na mão. Eu vi a carta que você recebeu da marinha mercante. Eu sei com o que você está sonhando. Eu não estou aqui com os olhos vendados. Então, muito bem. Então faça o que você quer. Mas só quando alguém tiver tomado o seu lugar.
Tom: o que você quer dizer?
Amanda: O que eu quero dizer é que, quando Laura tiver alguém que tome conta dela, e for independente – a[i sim você vai ser livre para ir para onde quiser, em terra, no mar, ou para onde o vento levar! Mas até isso acontecer, você tem que cuidar da sua irmã. Não digo de mim, não, porque eu estou velha e não tenho importância! Mas de sua irmã, sim, porque ela é jovem e dependente. Eu a coloquei numa escola técnica – foi um fracasso total! Ela ficou tão assustada que passou mal do estômago. Levei-a para o grupo de jovem da igreja. Outro fracasso. Ela mal falava com ninguém e ninguém falava com ela. Agora ela fica aí, brincando com essa coleção de peças de vidro e ouvindo esses discos velhos. Desde quando isso é vida para uma menina levar?
Tom: o que eu posso fazer a respeito disso?
Amanda: Superar o seu egoísmo. Eu, eu, eu – você só pensa em si mesmo! (tom se levanta bruscamente). Onde está o seu cachecol? Ponha o seu cachecol de lã! (ele tira com raiva o seu cachecol do armário e joga-o de volta em seu pescoço e puxa as duas pontas com força) Tom! Eu ainda não falei o que eu pensei em pedir a você.
Tom: Estou atrasado demais para ...
Amanda: Será que no almoxarifado não existem alguns – rapazes apresentáveis?...” (pág. 66; pág. 67)
Depois de alguns meses, Tom traz uma grande notícia: ele convida seu amigo Jim O’Connor que ele conheceu no ensino médio para jantar na em sua casa. Jim o chama de Shakespeare. Amanda não se segura com tanta felicidade e começa a fazer os preparativos. Jim chegará para o jantar no dia seguinte. Os preparativos precisam ser feitos. A sensação de que não vai dar tempo é superada pela vontade de que tudo dê certo. Sua mãe, Amanda, conserta a iluminação do apartamento e faz um vestido novo para Laura. Mas Tom faz uma ressalva:
“Tom: Mãe, você não deve ter muitas expectativas em relação a Laura.
Amanda: Como assim?
Tom: Laura parece ser tudo isso para mim e para você porque ela é nossa e nós a amamos. Nem mais percebemos mais que é aleijada.
Amanda: Não diga aleijada! Você sabe que eu não admito essa palavra seja usada!” (pág. 79; pág. 80)
Tom fala ao público sobre a continuação da história e fala sobre o convidado, Jim O’Connor:
Tom: E então na noite seguinte eu trouxe Jim para jantar em nossa casa. Eu tinha conhecido Jim superficialmente no ginásio. No ginásio, Jim era um herói. Tinha um tremendo bom humor e uma incrível vitalidade irlandesa associada a aparência limpa e bem tratada de porcelana chinesa. Ele parecia se mover sob a contínua luz de um refletor. Era uma estrela do basquete, líder do grupo de debates da escola, presidente da classe dos mais velhos, chefe do coro, e cantava representando os principais papéis masculinos nas operetas anuais. Estava sempre correndo ou pulando, nunca simplesmente andando. Parecia sempre estar a ponto de desafiar a lei da gravidade. Ele atravessava a adolescência com tal velocidade que você esperava que aos trinta anos ele chegasse no mínimo à Casa Branca. Mas aparentemente Jim deve ter enfrentado obstáculos depois de se graduar em Soldan. Sua velocidade sem dúvida diminuiu. Seis anos depois de terminar o ginásio, ele estava num emprego que não era muito melhor do que o meu.
Ele era a única pessoa no almoxarifado com quem eu tinha uma relação amigável. Eu era valioso para ele, pois era o único que podia lembrar sua antiga glória, o único que o vira vencer no basquete e ganhar a taça de prata nos debates. Ele sabia da minha prática secreta de me trancar na cabine do vaso sanitário no banheiro para escrever poemas, quando as coisas estavam tranquilas no almoxarifado. E me chamava de Shakespeare. E enquanto os outros rapazes do almoxarifado me olhavam com desconfiada hostilidade, Jim tinha uma atitude bem-humorada em relação a mim. Aos poucos a atitude dele afetou a dos outros, a hostilidade deles foi se dissipando e começaram também a sorrir para mim, como as pessoas sorriem para um cachorro estranho que passa na mesma calçada que elas, a certa distância.
Eu sabia que Jim e Laura tinham se conhecido em Soldan, e tinha ouvido Laura elogiar sua voz. Eu não sabia se Jim se lembrava dela ou não. No ginásio Laura tinha sido tão discreta quanto Jim tinha sido brilhante. Se ele se lembrasse de Laura, não seria como minha irmã, pois quando eu o convidei para jantar ele sorriu e disse: “ Sabe de uma coisa, Shakespeare, eu nunca pensei que você tivesse família!”
Ele logo descobriria que eu tinha.” (pág. 82; pág. 83)
Quando Laura vê Jim chegando à sua casa, ela percebe que ele é seu grande amor do ensino médio. Ela fica apavorada, ela atende a porta, mas rapidamente sai correndo. Amanda surge com um vestido de sua juventude e recebe Jim. Laura fica chocada e se recusa a sentar-se à mesa, deitando-se no sofá da sala de estar.
Após o jantar, subitamente as luzes do apartamento se apagam porque Tom não havia pago a conta de luz. Tom guarda um segredo e compartilha com Jim:
“Tom: Eu estou planejando uma mudança. E o futuro que planejo para mim não inclui o almoxarifado, nem Mr Mendonça, nem esse curso noturno de oratória.
Jim: Que conversa é essa?
Tom: Estou cansado dos filmes.
Jim: Dos filmes!
Tom: É dos filmes! Olha para eles! (faz m gesto em direção às maravilhas da Grande Avenida.) Toda essa gente glamorosa, vivendo aventuras, desfrutando de tudo que é bom, devorando tudo! Sabe o que acaba acontecendo? As pessoas se contentam com as aventuras do cinema e não se aventuram na vida! Os personagens de Hollywood se encarregam de viver aventuras no lugar de americanos, que se contentam em ficar sentados numa sala escura, assistindo às aventuras deles! É assim até começar uma guerra. Aí a aventura se torna acessível às massas! Ela entrega um cardápio de todo mundo, e não só de Clark Gable! Só a guerra faz as pessoas da sala escura saírem de lá para viver as suas próprias aventuras! Que maravilha! Agora é a nossa vez de ir para os mares do Sul, fazer um safári, experimentar o que é exótico bem longe daqui! Mas eu não tenho essa paciência. Não quero esperar. Estou cansado de ficar parado, só vendo a vida nos filmes, eu vou embora daqui.” (pág. 95; pág. 96)
Em poucas palavras, Tom pagou suas dívidas para se juntar à marinha mercante. Amanda acende as velas e Jim se junta à Laura à luz de velas na sala de estar. Laura lembra a Jim que eles se conheciam no ensino médio e que ele lhe colocou o apelido de “Botão de Rosa”. Jim, ao longo da conversa, tenta convencê-la a superar o seu complexo de inferioridade transmitindo-lhe confiança. Gradualmente, Laura vai saindo de sua concha.
Ela mostra a Jim a sua coleção de animais de vidro. E o deixa segurar o unicórnio de vidro, seu favorito.
“Laura: São pequenos objetos de vidro, enfeites, na maioria. Na sua maior parte, são pequenos animais feitos de vidro, os menores animaizinhos do mundo. Minha mãe os chama de zoológico de vidro! Se quiser ver, aqui está um deles! Este é um dos mais velhos. Tem quase treze anos. Mas cuidado - se você respirar, ele quebra!” (pág. 120)
Jim a chama para dançar. Eles dançam ao som de uma música vinda do Paradise Dance Hall, do outro lado da rua. Enquanto dançam, Jim derruba o unicórnio, quebrando o chifre. Agora o unicórnio se torna um cavalo normal, não mais uma criatura mágica. A quebra do chifre do unicórnio ocorre antes de Jim beijar Laura, sinalizando a impossibilidade de Jim e Laura ficarem juntos: ela não pode existir em seu mundo sem quebrar. Ao beijá-la, Jim imediatamente recua, desculpando-se e explicando que tem uma noiva. Laura fica arrasada, mas tenta não demonstrar. Ela dá a ele o unicórnio quebrado como lembrança. Jim promete que guardará a lembrança com carinho.
Amanda, quando entra na sala de estar, descobre que Jim tinha uma noiva. Ela perde o rumo, pois não sabia que seu filho Tom tinha escolhido um homem já noivo para sua irmã. Ela fica surpresa:
“Amanda: (debilmente): É incrível como as coisas podem dar errado. Eu não entendo como alguém pode ouvir vitrola numa hora dessa. Então é isso. Nosso pretendente estava noivo e vai se casar! (ela levanta a voz) Tom!” (pág. 133)
Os dois têm uma forte discussão. Tom não sabia que Jim estava noivo. Ele nunca havia lhe dito isso:
“Amanda: depois de nos fazer de idiotas. Tanto esforço, tantos preparativos, tantas despesas! A nova iluminaria, o tapete, as roupas para Laura! Tudo isso para quê? Para receber o noivo de uma outra moça! Vá logo para o cinema, ande! Não pense mais em nós, uma mãe abandonada, uma irmã solteira, aleijada e sem emprego! Não deixe nada atrapalhar seu prazer egoísta! Ande vá, vá – vá para o cinema!
Tom: Tudo bem, eu vou. Quanto mais você gritar sobre o meu egoísmo, mais rápido eu vou, e não é para o cinema!
Amanda: Então vá! Vá para lua – seu sonhador egoísta! (pág. 134 ;pág. 135)
À medida que os dois discutem, o narrador menciona um vidro à prova de som onde ele vê a agitação de sua mãe, Amanda, reconfortando Laura que está encolhida no sofá. No final da fala de Tom, Laura se levante e sopra as velas finalizando a peça.
“The Glass Menagerie” (“O Zoológico de Vidro”) foi um sucesso que lançou a carreira de Tennessee Williams. Ficou em cartaz na Broadway por 17 meses e ganhou o prêmio New York Drama Critics Award de melhor peça americana.
O Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams, merece um lugar de HONRA na sua estante.