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O Teatro de Sabbath

 

Esta obra merece ser lida com muita atenção. A tradução de Rubens Figueiredo faz com que o livro adquira força adicional. Estamos diante de uma história forte e provocante.

O livro conta a vida de Morris, ‘Mickey’ Sabbath, homem de 64 anos, em crise, após mais de uma década de relações marcadas por conturbações existenciais e uma sexualidade absolutamente desregrada. Um homem que se recusava a fazer parte do mundo das convenções e dos fingimentos que condenam a maioria das pessoas a viver na contramão de seus próprios desejos.

Podemos encontrar dois parâmetros que dão o tom de sua história: o alto grau de obscenidade de sua vida e uma grande melancolia. Um personagem atormentado por fantasmas, como a figura de sua mãe e de seu irmão, este morto na Segunda Guerra. As mulheres de sua vida o ajudam a corroer sua alma e a perpetuar sua reputação de homem obsceno e sem limites.

Sabbath era titereiro e ator de teatro de fantoches. Mais tarde montou sua própria companhia, chamada de “Teatro Indecente de Manhattan” - e raiz de sua ruína.

Entre tantos sentimentos contraditórios, recai sobre ele a suspeita do assassinato de sua primeira mulher, e na mesma ocasião, conhece Drenka. Na verdade, ela se deixou seduzir porque queria viver a porção secreta de seu mundo e se sentir aliviada de um casamento congelado pelo tempo. E o que dizer dos inúmeros encontros entre Sabbath e sua amante de mais de uma década, a sedutora imigrante croata, capaz de se satisfazer com quatro homens no mesmo dia? É dela a primeira frase do livro, um ultimato: "Ou você abre mão de trepar com as outras ou o nosso caso está encerrado.”

A grande questão que Sabbath nutria em seu íntimo não era manter-se fiel a Drenka, ele já o era, mas permitir que Drenka não fosse fiel a ele. Sua virilidade já dava amostras de cansaço e ele se alimentava das loucas aventuras sexuais de Drenka com os mais variados tipos de homens. Mas Drenka o desejava acima de todos os outros.

Roth é capaz de redigir, com minúcias de ritmo e vocabulário, a erótica conversa telefônica entre Sabbath e uma de suas alunas. Mesmo o leitor descolado sobre o tema deve sentir que coisas assim jamais foram escritas antes; e uma das perguntas que o livro sugere é precisamente até que ponto se pode escrever sobre o sexo. Vários assim o fizeram. Bukovski o fez com rara maestria, mas caia na auto-indulgência com a sexualidade masculina.

Morris ‘Mickey’ Sabbath jamais seria capaz de trocar sua idéia de felicidade por um sonho de vida digna, e demonstra exemplarmente, ao longo do livro, o valor da resistência à civilidade como forma de ascensão moral. A obra-prima de Roth faz com que Sabbath sempre fique no limite do intolerável, do inconveniente e inapropriado, cujas ironias são sempre difíceis de serem descobertas num texto expansivamente a favor da experiência.

Sabbath sonha com a morte e gasta o pouco que lhe resta para comprar um túmulo. O que ele poderia dizer sobre o sentido da vida? Muito pouco. E sobre o suicídio? “Uma hipótese engraçada."

Mas ele sabe que não pode morrer. "Como ia deixar tudo isso para trás? Como é que podia ir embora? Tudo que ele odiava estava aqui."


Data: 08 agosto 2016 | Tags: Drama


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O Teatro de Sabbath
autor: Philip Roth
editora: Companhia das Letras
tradutor: Rubens Figueiredo

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