Cem ideias que deram em nada
O livro “Cem ideias que deram em nada”, de Antonia Pellegrino, lançado agora em setembro, traz em seu próprio título uma contradição que só percebemos ao lê-lo, sem pressa. Porque as cem ideias enumeradas pela escritora acabaram dando em algo muito bom e que indico agora: são 159 páginas de textos, trechos de duas linhas, crônicas, absurdos e fatos reais que não ouso definir do que se trata por acreditar que somente lendo o leitor poderá definir as delícias encontradas e as agradáveis surpresas que de repente nos fazem parar e pensar – “É verdade”. E por ser tão real, passa despercebido por muitos de nós em nossas rotinas tão atarefadas, repletas de e-mails a responder, SMSs e WhatsApps a teclar enquanto se espera uma consulta médica ou se aguarda o garçom trazer a conta.
Antonia Pellegrino traz em seu currículo roteiros de cinema, como o filme “Bruna Surfistinha”, que recebeu o prêmio de melhor roteiro adaptado da Academia Brasileira de Cinema, e o filme sobre a vida do Tim Maia, adaptação do livro “Vale Tudo”, com estreia prevista para outubro. Participou da criação de “Alice”, da HBO, e foi colaboradora de quatro novelas e três seriados. Estamos diante de uma escritora que trabalha com “palavras” que saem do papel e ganham “áudio”.
Em “Cem ideias que deram em nada”, ela nos relata detalhes e algumas obviedades de forma tão lúdica e, às vezes, tão seca e implacável que a identificação com o incômodo estampado por palavras ou revelado através de uma cena banal, que poderia nos dizer tantas outras coisas, me fez crer que as “cem ideias que deram em nada” estão pulverizadas na vida de todos nós. Devido à forma, à estética utilizada e aos meios como ela “costura” uma simples compreensão com situações inusitadas e imagens verbais concentradas, encontramos em sua escrita a ousadia necessária para procurar, expor e falar sobre o “nada”, que ocupa espaços tão comuns entre todos nós em nossos dias lotados de afazeres - que nunca se encerram num só dia. Com todas as suas percepções numeradas, como quem decide colocar uma ordem na própria produção de memórias e devaneios, somos brindados com a simplicidade de frases como as de números 78 e 100:
“78. ideia de romantismo
“Cama cansa, o que segura o casamento é feijão.”
Ou uma outra e última ideia que não deu em nada, mas instiga:
“100. ideia de maldição”
“O que você não termina te acompanha até o fim.”
Quem de nós não acorda todos os dias com projetos em gavetas e sonhos que não se realizam, e por isso nos envelhecem a cada noite?
Diante desse fim, estou convicto que esse livro deve ser comprado, lido e presenteado aos que gostamos como uma forma de nos puxar para dentro de um mundo de ideias e possibilidades, que de alguma forma despertará nosso pensamento e percepção para o ontem, o agora e o amanhã. Caso você tenha achado tudo que eu escrevi até agora muito estranho, relaxe, a estranheza faz parte deste livro, repleto de elucubrações e realidades, que merece um lugar na sua vida e na sua estante. Divirta-se.