Livros > Resenhas

A sociedade do cansaço

Este é o terceiro livro resenhado aqui no Bons Livros para Ler do autor Byung-Chu Han, filósofo coreano radicado na Alemanha. Esse livro. publicado em 2010, foi lançado no Brasil em 2015. Gosto  muito desse autor. É o tipo de pensador que nos deixa mais inteligentes quando o lemos. O livro traz uma reflexão interessante da humanidade pós-moderna com o trabalho. E, como nos livros anteriores, o autor conversa com vários filósofos, tais como Nietzsche, Hanna Arendt, Agamben  e  Baudrillard.

O livro está dividido em sete capítulos curtos.  O último capítulo (oitavo) é uma rapsódia de temas tratados nos capítulos anteriores. A tese do autor é que o mundo ocidental se tornou uma sociedade do cansaço (título do livro), uma sociedade do esgotamento.

No primeiro capítulo, “A violência neuronal”, o autor lança uma tese interessante: “Cada época possui suas enfermidades fundamentais”. Para Byung-Chul Han, o século XXI é definido como uma sociedade nem bacteriológica, nem viral, mas neuronal. É impossível acabar de ler a afirmação acima e não se lembrar da Covid19, que vivenciamos há pouco tempo atrás. No entanto, isso não invalida a tese “neuronal”.

Mas, vejam bem, existem vacinas para sintomas patológicos antes da pandemia. Mas para o cansaço não existe remédio nem vacinas. O lockdown aumentou o nosso estresse, aumentou o cansaço e a depressão.

As doenças neuronais referidas pelo autor são: depressão, transtorno de déficit de atenção, a hiperatividade (IDAH), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou síndrome do Burnout. Todas essas patologias são determinantes desde o começo do século XXI.

Por violência neuronal entende-se a capacidade não de eliminar, mas de controlar a alteridade, ou seja, controlar as diferenças  a partir de dentro. Antes, o esquema imunológico, a negatividade do outro, era marcado pela violência. O agente do Estado encarcerava toda a negatividade do outro. Nos dias de hoje, no esquema neuronal, temos na positividade a prática da violência como resultado da superprodução, do superdesempenho, da supercomunicação. O poder é cada vez mais inerente, durável. A violência é cada vez mais saturante, mais exaustiva.

Sentimo-nos inquietos, não conseguimos ficar parados, não conseguimos nos concentrar ou prestar atenção às coisas que importam, estamos sempre ansiosos por perder alguma coisa, não ouvimos uns aos outros, não temos paciência. A palavra tédio está banida das práticas cotidianas. A guerra à ociosidade está declarada.

O século passado, segundo o autor, foi uma época imunológica. Uma época em que se estabeleceu uma divisão nítida entre o dentro e o fora, amigo e inimigo. Em nome da defesa, afasta-se de tudo que é estranho.

"O século passado foi uma era imunológica.  Trata-se de uma época na qual se estabelece uma divisão nítida entre dentro e fora, amigo e inimigo ou entre próprio e estranho. Mesmo na Guerra Fria seguia esse esquema imunológico. O próprio paradigma imunológico do século passado foi integralmente dominado pelo vocabulário dessa guerra, por um dispositivo francamente militar. A ação imunológica é definida como ataque e defesa. Nesse dispositivo imunológico, que ultrapassou o campo biológico adentrando no campo e em todo o âmbito social, ali foi inscrita uma cegueira. Pela defesa afasta-se tudo o que é estranho. O objeto de defesa imunológica é a estranheza como tal. Mesmo que o estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele não represente nenhum perigo é eliminado em virtude de sua alteridade.” (pág. 8; pág. 9)

A violência não provém apenas da negatividade (que identifica um corpo estranho e maléfico e reage contra ele), mas também da positividade, não apenas do outro, ou do estranho, mas também do igual. A comunicação generalizada e a superinformação ameaçam todas as forças humanas de defesa. A defesa imunológica volta-se contra o outro ou estranho em sentido enfático. O igual não traz anticorpos. Num sistema dominado pelo igual não tem sentido fortalecer o mecanismo de defesa. O idêntico não produz anticorpos. Em um sistema dominado pelo idêntico, reforçar as defesas do organismo é inútil. O excesso de idêntico leva ao excesso de positividade.

 A depressão, o TDAH, transtorno de personalidade, déficit de atenção e hiperatividade e perturbações da personalidade, como são os casos da  Síndrome de Burnout, são decorrentes do excesso de positividade.

Só que aí reside o paradoxo: o inimigo não vem de fora, mas vem de dentro de nós mesmos, nós alimentamos dentro de nós mesmos a nossa doença. A violência da positividade que resulta da superprodução, superdesempenho ou supercomunicação.

 Para sintetizar, podemos dizer que a violência neuronal não é algo estranho ao sistema. É uma violência que é intrínseca  ao sistema. A hiperatividade não é uma categoria imunológica. Representa apenas a massificação do positivo.

O segundo capítulo chama-se: “Além da sociedade disciplinar”. E o que vem a ser isso? Bem, segundo Han, a sociedade disciplinar é a sociedade da negatividade, ou seja, caracteriza-se pela negatividade da proibição. A sociedade disciplinar produz loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho produz depressivos e fracassados.

A sociedade disciplinar de Foucault tem nas fábricas, asilos, presídios, quarteis seu paradigma. A sociedade do século XXI não é mais disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Nos transformamos em empresários de nós mesmos.

“A mudança de paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho aponta para a continuidade de um nível. Já habita, naturalmente, o inconsciente social, o desejo de maximizar a produção. A partir de determinado ponto da produtividade, a técnica disciplinar ou o esquema negativo da proibição se choca rapidamente com seus limites. Para elevar a produtividade, o paradigma da disciplina é substituído pelo paradigma do desempenho ou pelo esquema positivo do poder, pois a partir de um determinado nível de produtividade, a negatividade da proibição tem um efeito de bloqueio, impedindo um maior crescimento”. (pág. 25)

O sujeito do desempenho é mais rápido e mais produtivo que o sujeito da obediência. O sujeito do desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo. A positividade do poder é bem mais eficiente que a negatividade do dever. Ele se entrega à liberdade coercitiva e à livre coerção de maximizar o seu desempenho. Ele continua disciplinado, sob a égide do imperativo do dever. Na verdade, nessa nova configuração não há ruptura; há apenas continuidade. O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do desempenho.

O terceiro capitulo é “O tédio profundo”. Nesse capítulo o autor trata do excesso de estímulos de informações e impulsos, consumindo a nossa atenção. A sobrecarga de trabalho nos força a uma atenção redobrada em relação ao tempo.  Vivemos uma vida onde a rapidez tem uma formula própria. Isso, segundo o autor,  não tem nada a ver com o progresso civilizatório. Nos transformamos em seres multitarefas. Essa forma de viver está disseminada entre os animais em estado selvagem.

A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável para sobreviver na vida selvagem. Um animal ocupado no exercício da mastigação de sua comida tem de ocupar-se ao mesmo tempo também com outras atividades. Deve cuidar para que, ao comer, ele próprio não acabe comido. Ao mesmo tempo tem de vigiar sua prole e manter o olho em seu(sua) parceiro(a). Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem no comer nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás de si. Não apenas a multitarefa, mas também atividades como jogos de computador geram uma atenção ampla, mas rasa, que se assemelha à atenção de um animal selvagem. As mais recentes evoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. Entrementes, o assédio moral, por exemplo, alcança uma desproporção pandêmica” ( pág. 31; pág. 32)

O estado de atenção plena exige uma atenção constante, pois precisa cuidar de várias atividades. O que empobrece a própria atenção, tornando-a pobre e superficial, sem nenhuma profundidade contemplativa, atrasada no quesito condição humana.

Existe uma pressão para nos desdobrarmos, e isso inclui atividades paralelas fora do trabalho, ou seja, ao invés do descanso, do relaxamento, substitui-se pela pressão de se fazer algo e não perder tempo. Como, por exemplo, os  produtores de conteúdo na internet, que tentam não desperdiçar o seu tempo para construir a sua presença digital necessária para a vida hoje.

Uma atenção dispersa, que se desdobra em diversas atividades, fontes informativas e de processos. A tolerância ao tédio é zero.

“Walter Benjamin chama a esse tédio profundo de um “pássaro onírico, que choca o ovo da experiência” . Se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. Pura inquietação não gera nada de novo. Reproduz e acelera o já existente. Benjamin lamenta que esse ninho de descanso e de repouso do pássaro onírico está desaparecendo cada vez mais na modernidade. Não se “tece mais e não se fia”. O tédio seria um “pano cinza quente, forrado por dentro com o mais incandescente e o mais colorido revestimento de seda que já existiu” e no qual “nos enrolamos quando sonhamos”. Nos “arabescos de seu revestimento estaríamos em casa” . Com o desaparecimento do descanso, teriam se perdido os “dons do escutar espreitando” e desapareceria a “comunidade dos espreitadores”. Nossa comunidade ativa é diametralmente oposta àquela. O “dom de escutar espreitando” radica-se precisamente na capacidade para a atenção profunda, contemplativa, à qual o ego hiperativo não tem acesso”. ( pág. 34; pág. 35)

 Em nossa sociedade neoliberal, o tédio é algo impensável. O culto da performance se instaurou. As mentes sempre ocupadas e inquietas. Todas atreladas ao que já está criado e estabelecido. A repetição do que já existe, do que já está criado. Zero chance para o novo. Todos estão encurralados em si mesmos, todos estão sob a tutela do desempenho do dar o melhor de si mesmo. Como afirma Walter Benjamin, “o tédio é o pássaro que choca os ovos da experiência”. Na sociedade neoliberal, a tarefa é simplesmente matar o pássaro.

O próprio Nietzsche substituiu o ser pela vontade, sabe que a vida humana está condenada a uma hiperatividade onde o elemento contemplativo foi expulso.

 “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo” ( pág. 37)

No capítulo quatro, “Vita activa”, Han começa analisando Hannah Arendt em seu livro “A Condição Humana”. Nesse livro, Arendt faz uma distinção entre vida ativa e vida contemplativa, enquadrando essa última como a atividade mais elevada da humanidade. Ao focar na vita activa, Arendt está reconstruindo esse aspecto negligenciado da vida humana.

A sociedade moderna entendida como sociedade do trabalho aniquila todas as possibilidades de agir. Todas as formas da vita activa, tanto o produzir como o agir, decaem ao patamar do trabalho. É nesse sentido que Hanna Arendt vê a modernidade como um projeto inicialmente heroico, capaz de emancipar todas as capacidades humanas, findar numa passividade mortal.

 Ela vê sinais de perigo de que o homem possa estar em vias de transformar-se numa espécie animal descendente de Darwin. Ela admite que todas as atividades humanas estão cada vez mais parecidas com processos biológicos.Para Byung-Chul Han, as observações de Hana Arendt não correspondem ao processo que vivemos nos dias de hoje. O animal laborans pósmoderno não abandona a sua individualidade, muito menos o seu ego, para se entregar ao trabalho, a um processo anônimo da espécie. A sociedade laboral individualizou-se numa sociedade de desempenho e numa sociedade ativa. O anima laborans pós-moderno é provido de ego. Ao contrário do que Arendt diz, ele não é passivo, ao contrário ele é hiperativo, histérico em relação ao trabalho e da produção. A aceleração de hoje tem muito a ver com a carência de ser. A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são uma sociedade livre. Pelo contrário, ela gera novas coerções. E quais são essas novas coerções? Cada um carrega consigo o seu próprio campo de trabalho. A característica desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiros e vigias, vítimas e agressores. Acabamos explorando a nós mesmos.

 

No capítulo quinto, “Pedagogia do ver”, Han fala da vita contemplativa, que pressupõe uma pedagogia específica do ver. Aprender a ver, segundo Nietzsche, significa habituar o olho ao descanso, à paciência da atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento. Aprender a ver seria a primeira forma de escolarização do espírito. Para isso, a não reação imediata a um estímulo seria o começo. Reagir de imediato seria a doença, um sintoma de esgotamento.

Segundo Han, é aí que mora a burrice de um computador. Um computador é “incapaz de fazer pausas, falta-lhe a capacidade de hesitar.” O computador é mais rápido que cérebro humano, pois acolhe uma imensidão de dados e está livre de toda alteridade. É uma máquina positiva. E é nessa positivação geral do mundo que o homem se transforma numa máquina de desempenho autista.

O esforço exagerado de maximizar o desempenho afasta a negatividade, pois esta atrasa o processo de aceleração. Desprovidos da negatividade e se possuíssemos apenas a potência positiva, estaríamos expostos a todos os estímulos e impulsos. Seria impossível haver qualquer “ação do espírito”. Se possuíssemos apenas a potência de fazer algo e não tivéssemos a potência de não fazer algo, incorreríamos  numa hiperatividade fatal.

 A negatividade é um traço essencial da contemplação:

“ Na meditação zen, por exemplo, tenta-se alcançar a negatividade pura do não-para isto é, o vazio, libertando-se de tudo que aflui e se impõe. Assim é um processo extremamente ativo, e algo bem distinto que passividade. É um exercício para alcançar em si um ponto de soberania, de ser centro. Se possuíssemos apenas a potência positiva, estaríamos, ao contrário, expostos de forma totalmente passiva ao objeto. A hiperatividade é paradoxalmente uma forma extremamente passiva de fazer, que não admite mais nenhuma ação livre. Radica-se numa absolutização unilateral da potência positiva”. (pág. 58)

O sexto capitulo chama-se “O caso Bartleby”, livro esse já resenhado aqui no site. Bartleby conta a história de um escrivão que foi contratado por um advogado de sucesso em um escritório em Wall Street. Nesse escritório, a superatividade reinava a todo vapor.  Bartleby trabalha atrás de uma divisória e olha sempre distraidamente para uma parede de tijolos.

Sua contratação visava aliviar o excesso de trabalho no escritório. Durante dois dias, em meio a toda a agitação, ele executa seu trabalho normalmente e ganha a confiança do seu chefe. No entanto, logo depois, Bartleby começa a dar sinais de desequilíbrio mental, recusando-se a revisar o seu trabalho que era de copista e, finalmente, recusando-se a trabalhar.  Logo em seguida, para piorar a situação,  seu chefe descobre que Bartleby mora no escritório, numa solidão mórbida.

“Agamben eleva Bartleby a uma figura metafísica de pura potência: “esta é a constelação filosófica a que pertence Bartleby, o escrivão. Enquanto escriturário que deixou de escrever, ele representa a forma extrema do nada, donde surge toda a criação, e ao mesmo tempo a exigência inexorável desse não, em sua potência pura e absoluta. O escrivão se tornou a escrivaninha, a partir daí ele nada mais é que sua própria folha em branco” pág. 63()

É uma figura sem referência para consigo mesmo. Ele fica ausente, apático, uma folha em branco esvaziada de sentido. No entanto, ao contrário dos dias de hoje, ele não se vê confrontado com aquele imperativo de ser ele mesmo, que marca a sociedade do desempenho pós-moderna.

“Copiar é precisamente a atividade que não admite qualquer iniciativa. Bartleby, que ainda vive na sociedade das convenções e instituições, não conhece aquele exagero de trabalho do eu, que leva a um cansaço do eu depressivo”. (pág. 62)

Han vê que Bartleby não desenvolve os sintomas da depressão da sociedade do desempenho da pós-modernidade. Seus sentimentos não são de inferioridade ou de angústia frente ao fracasso. Ele não fracassa no projeto, apenas não tem iniciativa. É um projeto vazio, sem esperança.

No capítulo sete, “ A sociedade do cansaço”, que Han dá o nome de sociedade de doping. Esse doping é a consequência da maximização do desempenho. O desempenho é o cansaço solitário, que atua individualizando e isolando.

O aparato psíquico freudiano, dotado de mandamentos e proibições, é um aparato repressivo e impositivo. Está estruturado para uma sociedade disciplinar, composta de hospitais e asilos, presídios. A psicanálise freudina alcança sua eficácia em uma sociedade repressiva que se baseia na negatividade das proibições.

O aparato psíquico de Freud é dominado pelo medo e pela angústia frente à transgressão. O sujeito do desempenho pós-moderno é o sujeito da afirmação.

 Em Kant, é a consciência moral assume o papel do superego:

 “ Todo homem tem uma consciência moral e se vê observado, ameaçado por um juiz interno, que o obriga ao respeito ( com medo que isso lhe custe alguma advertência); e essa violência que vigia nele para o cumprimento das leis não é algo que ele próprio cria ( arbitrariamente) mas está incorporado em seu ser” (pág. 81)

O sujeito moral é ao mesmo tempo o acusado e o juiz. Reprime todas as inclinações para o prazer em favor da virtude, mas o deus moral  recompensa seu trabalho com dores e sofrimento, dando-lhe bem-aventurança. O sujeito moral aceita a dor e o sofrimento por causa da moralidade, pois está seguro de receber sua gratificação. Ele mantém uma relação íntima com Deus, pois em Deus ele pode confiar.

O sujeito da pós-modernidade espera alcançar o prazer. Ele ouve a si mesmo. Afinal, ele é um empreendedor de si mesmo. Ele explora a si mesmo de modo cada vez mais efetivo, quando se mantém aberto para tudo. Ele não aceita os sentimentos negativos, ele não admite conflitos. Sua concorrência não é mais entre grupos, mas individual. Esqueça ideologia, classes. O sujeito do desempenho concorre consigo mesmo e sob uma coação destrutiva, pois se vê constantemente forçado a superar a si próprio. A negatividade do superego restringe a liberdade do eu.

A luta entre o eu real e o eu ideal acaba em autoagressividade. Ele explora a si mesmo, algoz e vítima, senhor e escravo. O capitalismo trocou o registro da exploração próprio a fim de acelerar o processo. E o motivo é  que a economia absolutiza a sobrevivência. Uma rigidez assustadora. A autoexploração é muito mais eficiente que a exploração exterior.

Na época do relógio de ponto, era possível estabelecer uma separação entre o trabalho e o não trabalho. Hoje, trabalho e salas de estar estão misturados. Pode-se trabalhar em qualquer lugar, a qualquer hora. Basta um laptop, um smartphone para se formar um grupo de trabalho.

Todas as relações humanas tornaram-se relações comerciais. A sociedade da positividade que acredita ter se libertado de todas as coações se vê presa na autodestrutividade. É assim que o burnout e as depressões tornaram-se as doenças psíquicas do século XXI.

Fico por aqui e superindico “A Sociedade do Cansaço”, de Bung-Chul Han. Um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.


Data: 16 novembro 2023 | Tags:


< Sociedade da Transparência Hiperculturalidade: Cultura e globalização >
A sociedade do cansaço
autor: Byung Chu Han
editora: Editora Vozes
tradutor: Enio Paulo Giachini

compartilhe